Chamada de Artigos

HISTÓRIA E FUTEBOL: DEBATES ACADÊMICOS SOBRE UM ESPORTE GLOBAL  

 

  • Dr. Felipe Augusto dos Santos Ribeiro (UESPI)
  • Dr. Makchwell Coimbra Narcizo (UESPI - Parnaíba; UNEMAT - Diamantino)
  • Doutorando Roger dos Anjos de Sá (UFG; SEDUC-GO)
  • Dr. Victor de Leonardo Figols (site História da Ditadura e Ludopédio)

 

Com origem elitista na Inglaterra do século XIX, o futebol logo caiu no gosto popular e foi transformado em um esporte global reunindo milhares de adeptos e multidões. Hoje, é uma das mais destacadas manifestações culturais de nosso mundo. Por essa grandiosidade carrega apropriações e contradições ao longo dos anos, sendo possível diversas interpretações a partir dele e em torno dele. 

Nas duas últimas décadas vivenciamos um crescimento - quantitativo e qualitativo - das produções acadêmicas sobre futebol. São incontáveis monografias, dissertações e teses que analisam o futebol a partir de diferentes abordagens teóricas e metodológicas. Se antes havia alguns poucos trabalhos que olhavam apenas para o futebol profissional - e masculino -, hoje podemos dizer que os trabalhos exploram os mais diferentes tipos de futebóis - do futebol de mulheres ao futebol adaptado, passando pelo futebol de várzea, de base, operário e indígena, do futebol da comunidade LGBTQIAP+, até manifestações políticas das torcidas, ou mesmo de clubes amadores com posicionamentos políticos muito claros. Apesar disso, o espaço cedido ao futebol no interior das investigações acadêmicas, especialmente no Brasil, é bastante restrito. Mesmo com esses avanços citados, há muito que percorrer ainda.  

Por isso o presente dossiê busca receber trabalhos em História, em diálogo com as produções das demais Ciências Humanas, que tratam o futebol em diversas temporalidades e vieses, seja no âmbito social, cultural, político e econômico, abarcando estudos de caso, balanços bibliográficos e análises das mais variadas, como o seu processo de popularização, seus recortes de gênero, raça e classe, sua capacidade de mobilidade social, pujança econômica e influência política, a relevância de campeonatos, clubes e atletas específicos, além de memórias e representações a partir deste esporte.   

 

Referências Bibliográficas

FRANCO JUNIOR, Hilário. A dança dos deuses: futebol, sociedade e cultura. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

GASPAR, Lúcia; BARBOSA, Virginia. O futebol brasileiro, 1894 a 2013: uma bibliografia. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Ministério do Esporte, 2013.

GIGLIO, Sérgio Settani; PRONI, Marcelo Weishaupt. (Orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.

LOPES, José Sérgio Leite; MARESCA, Sylvain. A Morte da ‘Alegria do Povo’. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: 1992, v.20. p.113-134.

LOPES, José Sérgio Leite; MARESCA, Sylvain. Classe, etnicidade e cor na formação do futebol brasileiro. In: BATALHA, Cláudio; SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre (Orgs.). Culturas de classe: identidades e diversidade na formação do operariado. Campinas: Ed. Unicamp, 2004. p.121-163.

MASCARENHAS, Gilmar. Entradas e bandeiras: a conquista do Brasil pelo Futebol. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2014.

HOLANDA, Bernardo Buarque de; FONTES, Paulo (orgs.). Futebol e Mundos do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Eduerj, 2021. 

PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro (1902-1938). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

MELO, Victor Andrade de. [et. al.]. Pesquisa histórica e história do esporte. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.

FIGOLS, Victor de Leonardo. O lugar do futebol nos simpósios da associação nacional de história (ANPUH): um balanço de 1961 a 2017.. Revista Hydra, v. 3, p. 9-73, 2018.
https://periodicos.unifesp.br/index.php/hydra/article/view/9084/6617 

GIGLIO, Sérgio Settani; SPAGGIARI, Enrico. “A produção das ciências humanas sobre futebol no Brasil: um panorama (1990-2009)”. Revista de História. São Paulo, n. 163, p. 293-350, 2010.

CAMPOS, Flavio de; ALFONSI, Daniela. Futebol objeto das Ciências Humanas. São Paulo: Leya, 2014.

MURRAY, Bill. Uma história do futebol. São Paulo: Hedra, 2000.

GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.

GIULIANOTTI, Richard; ROBERTSON, Roland. Globalization & Football. Londres: SAGE Publications, 2009.

DAMO, Arlei Sander. Do dom à Profissão: a formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rithschild Ed., Anpocs, 2007.

 

 

Prazo de submissão: 20 de novembro de 2023.

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Política contenciosa e o desejo de mudança: o presente como problema, o passado como inspiração

Coordenadoras (es)

  • Dra. Mariana Affonso Penna (IFG)
    mariana.penna@ifg.edu.br
  • Doutorando Pablo Pamplona (USP)
    pablopamplona@gmail.com

 

Em 1976, o historiador francês Jean Chesneaux publicava o provocador ensaio “Devemos fazer tábula rasa do passado? Sobre a história e os historiadores”. Nele, Chesneaux entende a História como uma relação ativa com o passado. Como tal, seria preciso entender que é o presente que impõe suas pautas ao revisitar as experiências de outros tempos. Segundo ele, “cada um escolhe o seu passado, e essa escolha nunca é inocente”. Fica patente, nesta afirmação, o sentido inerentemente político do fazer histórico. São justamente os problemas e os diferentes interesses em torno das urgências que a realidade vivida impõe, aqueles a questionar e intimar o passado em busca de soluções e de legitimação. 

O momento atual é marcado pela ascensão de movimentos e governos de viés declaradamente autoritário, em diferentes regiões do mundo. Uma sensação de déjà vu histórico nos remete ao passado recente do Entreguerras, do nazifascismo; às polarizações ideológicas da Guerra Fria; ou, no caso específico brasileiro, ao “Dia que durou 21 anos”. A busca de explicações para o avanço do autoritarismo sobre as democracias liberais de nossos dias através da simples reconstrução destas experiências do século XX arrisca obscurecer o que há de novo neste fenômeno. A história não se repete, a menos que seja a tragédia convertida em farsa, conforme a célebre frase de Karl Marx. No entanto, este passado deixa heranças e se faz presente no campo das lutas políticas e, como tal, é parte da prática social.

A reinterpretação dos processos históricos proveniente do levantamento de novas fontes e do aprofundamento de metodologias investigativas é um exercício legítimo e recorrente no ofício do/a historiador/a. No entanto, as fronteiras, os limites entre a necessária revisão inerente à historiografia e o negacionismo como um exercício politicamente motivado de falsificação histórica nem sempre se fazem evidentes aos olhos de pessoas leigas. E o uso da mentira como instrumento de disputa na arena política é uma prática conscientemente disseminada pelas correntes político-ideológicas autoritárias como ficou patente na emblemática estratégia do uso da “grande mentira” na propaganda nazista. Reeditada, a mentira dos dias atuais se expressa desde nas chamadas “fakenews” difundidas em redes sociais, aos negacionismos históricos, disfarçados de revisionismos, empenhados em manipular e distorcer a produção historiográfica para seus fins políticos.

Frente a tão adverso contexto histórico, é perceptível, conforme destacava Chesneaux, que o conhecimento do passado é uma “zona asperamente disputada”. Em meio a este confronto, torna-se imperativo compreender o lugar das/os historiadoras/es. A responsabilidade e o compromisso com a verdade são as bases éticas do nosso ofício, nos advertia Eric Hobsbawm em “Sobre a História”. Mas estes princípios não se confundem com uma pretensa neutralidade ou o olhar de sobrevoo advogado pelo pensamento positivista. A história está intrinsicamente relacionada à prática social e como tal, “nunca está acima da peleja”, nos lembra Chesneaux. Em meio à adversidade do obscurantismo e da tirania, precisamos nos munir de história. Como ambos os historiadores avigoram: se o presente vai mal, temos necessidade de inquirir ao passado por respostas. Este dossiê convida pesquisadores a olhar para a história em suas manifestações de política  contenciosa, expressas especialmente na forma de movimentos sociais, e em como estes se munem do passado na busca de soluções para o que entendem como urgências de seus tempos.

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. Teses Sobre o Conceito da História. In BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1987.

CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tábula rasa do passado? Sobre a história e os historiadores. São Paulo: Ática, 1995.

HOBSBAWM, Eric. Sobre a História. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado. Rio de Janeiro: Contraponto, v. 25, 2006.

LÖWY, Michael. A filosofia da história de Walter Benjamin. Estudos Avançados, vol. 16 no. 45, p. 199-206, 2002.

LIMA, Valesca; PANNAIN, Rafaela N.; MARTINS, Gabriela Pereira (Ed.). The Consequences of Brazilian Social Movements in Historical Perspective. Taylor & Francis, 2022.

PENNA, Mariana Affonso. Utopias e Ucronias: inquietações do presente e usos políticos do passado. História Revista, Goiânia, v. 26, n. 2, p. 112–141, 2021. DOI: 10.5216/hr.v26i2.68644. Disponível em: https://revistas.ufg.br/historia/article/view/68644. Acesso em: 19 ago. 2022.

 

 

Prazo de submissão: 30 de abril de 2024